quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Isabel Genta - Poesias

PRESENÇA NO VENTO

O vento, este mesmo
Que bate em meu rosto,
Desalinha teu cabelo
Num sei onde
Sopra carícias
Em meu corpo - parado
No instante da lembrança
De ti-braços abertos
Sorrindo solto,
Abraçando o céu - a mim
Rodando na alegria
Marcaste a areia
E todo o lugar - eu
Com tua presença no vento.


OS SÓS

Quantas solidões
Na solidão de um só!
Quantos sós
Em quadriláteros iguais
Pensam a sozinhar!

Pingos na janela
Gotas dos olhos
No rosto...que não olha,
Apenas fixa

Quantas solidões
Iguais,
Na desigualdade
Das situações,
Na vida.

No mesmo instante,
Anos luz...
Mesmo doer
Do nada esperar.

Atenção/tensão
Aos ruídos do mundo,
Que é toda
Companhia diversa...

Quantos sós
Cercados, em paredes,
Fazem companhia ...agora
Uns aos outros ?


LUAR DE PRAIA

É dia,
É noite..
É dia
Na noite,
É branco
Na onda..
É onda
Ao luar !



CADEADOS

A primeira claridade que bate
Na fresta, no olho
No vão da janela,
Diz do novo dia...aqui

Cores e movimento
Da brisa que sopra
Na onda que sobe
E se faz branca...lá

Meu olhar pula da cama,
Da janela prá cerca
E esbarra no portão...daqui

Na tranca, que tranca a corrente
Que prende o cadeado e...
Deixa a manhã no pátio...dentro.

AS PLANTAS DO PÁTIO

No pátio tudo tem nome.
Trazida de longe
Cada planta, cada muda,
Tem história de amizade.

Toda a estação refaz
O momento do plantio,
A lembrança dos cuidados,
A paciente espera,

De tanto plantar e plantar,
Aos poucos se fez jardim,
O árido que brotou flores.

Neste oásis as delícias,
Frutos maduros e boa sombra
Crianças subirão em árvores.


O ARCO-ÍRIS

Tão raro...sol e chuva,
“casamento de viúva”!..
De manto rendado
Em brancas ondas
No verde-mar...transparente
Que reluzindo,
Brilha adejando chuviscos!
Chuva e sol... tão raros,
“pode preparar o anzol”!
que o peixe vem pra olhar,
a beleza do arco-íris
no pote fundo do mar.
Quanta cor pra copiar
Da palheta Divina...
Que nunca repete
Nem cansa de recriar
Este mundo perfeito
Que teimamos acabar!
Nem viúvas, nem casamentos,
Nem peixes a pratear as ondas,
Nem verde-mar em azul de céu,
Ou mesmo, multicores pintar...
Apenas o homem sozinho, cinza
A pedir novamente o milagre
Que, então, de tão raro,Quase será esquecido! ... QUASE !


A SOMBRA I

Olhando a sombra de mim
Não me sinto tão so´...
Ela é diferente, é sombra só.
Mas se move , sem vida própria !
Só a sombra colada em mim,
Me acompanha, mesmo opostamente...
Mas é sombra de mim?
Ou eu em sombra ?
Ela s vezes me assombra,
Embora só sombra
Se gruda, se alonga, se encolhe ...
E se torna pedra , se torna o musgo
Se encosta em parede,
Penetra e repousa ...
Na árvore
Se funde à escuridão !
Me encontro na sombra , às vezes
Me olhando na luz.
Estranha me sinto nela ,
Maleável, indistinta !
Estamos atreladas ...
Ela e eu.
Jamais a preencho ,
Nem ela a mim...
Somos só ,Sombras de mim mesma .

A SOMBRA II

A sombra não se transforma,
A sombra se amolda,
Termina no meu começo...
De frente prá luz fica às costas,
De lado ... apenas um risco,
Um fio escuro que sou também eu !
Eu dou sentido à sombra , ou...
Ela dá forma a mim, que me vejo?
Vida, luz, sombra ...
Só na morte, escuridão,
Eu a deixarei sem forma
(solta de mim)
serei eu a perdê-la ? ...
ou ela a si, perdendo? ...
É então a sombra,
Ela a que morre !
Mesmo estando eu, enfim,
Diante da luz !!!

Um comentário:

Asali disse...

Isa gran amiga ,bellas letras!!!!